Repatriação digital do acervo afro Pernambucano sob a guarda do Centro Cultural São Paulo
O Museu Afrodigital e o Museu da Abolição - MAB apresentam a exposição “Repatriação Digital do Acervo Confiscado de Terreiros” em parceria com o Centro Cultural São Paulo - CCSP, composta por fotografias digitais dos objetos de terreiros do Recife que foram confiscados pela polícia na década de 1930, durante as perseguições às religiões de matriz africana. O conjunto destes objetos foi cedido pelas autoridades policiais à Missão de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade, durante sua passagem pelo Recife em 1938, e hoje se encontra sob a guarda do CCSP. Esta exposição é o resultado do projeto Repatriação digital do acervo afro Pernambucano sob a guarda do Centro Cultural São Paulo, financiado com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco – Funcultura.
A discriminação, o preconceito e a perseguição às manifestações religiosas que estiveram à margem da “religião oficial” ocorrem desde o período colonial, e, lastimavelmente, permanecem até os dias atuais. Todavia, durante o Estado Novo, o estreitamento das liberdades políticas, o controle dos movimentos sociais e o disciplinamento dos trabalhadores, foram acentuados durante aquele período. As ações do Estado de localizar, invadir, destruir e eliminar estas expressões e muitas vezes os seus praticantes, teve, particularmente no Estado de Pernambuco, uma forte expressão. Os objetos confiscados dos terreiros da cidade do Recife e salvaguardados pela Missão, além de testemunhas desta realidade, nos trazem a memória da intolerância e com ela um forte motivo para o não esquecimento. Vários outros objetos, além dos salvaguardados, foram violentamente retirados de seus locais sagrados, quebrados, amontoados e queimados em praça pública. Apenas uma pequena parte deles foi encaminhada às delegacias e à Secretaria de Segurança Pública – SSP, como prova do crime cometido pelo povo do terreiro: a prática ilegal das expressões religiosas, associadas aos processos de curandeirismo, charlatanismo e possessão como doença mental. Esta proibição, imposta pelo Estado, esteve alicerçada em uma concepção higienista da sociedade, aplicadas a partir dos anos 20, não só por médicos, mas também engenheiros, arquitetos, sociólogos e advogados. A ideia era limpar, higienizar, as cidades de suas “mazelas”, suas “doenças” rumo á modernização.
A parceria desenvolvida entre o MAB, o Museu Afrodigital e o CCSP traz a oportunidade de fomentar a reativação de memórias das comunidades de terreiro ao mesmo tempo em que compõe importante ferramenta educativa e política, com usos práticos em escolas públicas da rede municipal, estadual e federal. Esta ferramenta também auxilia na consolidação da Lei nº 10.639 que assegura o ensino da história e da cultura afrobrasileira nas escolas, ao mesmo tempo em colabora com as Nações Unidas para ampliar ações na instituída Década Internacional dos Afrodescendentes (2013- 2022). Neste sentido, o resultado das pesquisas e digitalização do acervo afropernambucano, que se encontra no CCSP, se consubstancia em importante subsídio para o debate sobre o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, assim como